domingo, 7 de março de 2010

Quem sabe...

Será que sou só eu? Às vezes me pergunto se isso é tão incomum, se alguém vê do mesmo jeito. Será que sou só eu que prefiro o frio ao calor? Ou ainda o abraço ao rancor? Será que só eu me prendo à olhares? Porque me são tão fascinantes? Porque me prendo à sorrisos, palavras, carinhos. Porque me prendo a fantasmas, às almas penadas que, ainda que nunca tenham vivido de fato, são perturbadores. Será que só eu tenho lembranças ao ouvir as mesmas músicas? E será que ainda assim, depois de tudo, consegue abrir um sorriso verdadeiro e esquecer de tudo, será que sou só eu?

Palavrões me passam pela mente, ao mesmo tempo que se misturam com perfumes, melodias melancólicas e o pulsar de algo que se aproxima da raiva. Impulsivamente penso em chutar o objeto mais próximo. Controladamente dou um murro em algo sólido. Eu sei, o sol amanhã secarão as lágrimas do sereno. Eu sei, tudo sempre volta ao normal, o meu sorriso pontual, o meu riso sempre igual. Porque no rio só desce o que é leve, o pesado se junta, protege. O que fica é forte, é consistente. E é assim que termino, sempre igual, sempre diferente, sempre contraditório, irreverente. Sempre compassivo, tão solenemente. Subversivo, obediente. Compulsivo, ironicamente. Fingindo sorrateiramente, o que passa na mente.

Rima, métrica, nada expressa sentimento. Poesia é supérfluo, quando minha espinha arrepia, o coração se agita, a mente palpita, a boca saliva, os olhos também. Mas tudo, tudo volta sempre ao normal.

Como o curso de um giro, tudo sempre volta à posição inicial. Quem sabe, um dia, os parafusos se soltem, e essas rodas possam fugir livremente. Quem sabe andem em estradas planas, onde as flores não caem, onde o fogo não se apaga, onde mortos morrem. Quem sabe.

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