segunda-feira, 8 de março de 2010

Contradições Interiores

Hoje sentei em uma pedra na estrada. Refleti sobre os dias que se passaram. Sobre como não consigo me controlar exposto aos meus impulsos. De como repito os mesmo passos, os mesmo tropeços, as mesmas escoliações nas mesmas cicatrizes mal saradas. Pensei que não devia ser amado por ninguém. Que nada em mim é digno de tão perfeito sentimento.
Mas ainda assim, parece que algo lá dentro fala o contrário. Ou melhor, grita, esperneia. É como se uma pedra quisesse subir o rio, não se importando com a corrente, com a gravidade, com a sua natureza pesada, fria. Talvez o seu impulso interior fosse maior, seu ímpeto pudesse levá-la além. Mais ainda.
Podia fazer tornar-se grande. Pensamentos vãos, ó dilema intelectual. Pensar racional, me levar pelo sentimental, me fechar à tudo e todos, me render ao sarcasmo, à ironia e ao meu fugaz humor negro. Ou ainda ser franciscano, abdicar dos risos, do que é rico, do que liso, do que me faz humano. Ou ainda mais ou menos humano, ou nada humano, ou super-humano. Ou ainda desumano.
Não importa, são só coisas bestas. Diário besta, caminho besta. Mas afinal, temos tanto tempo à perder, não que importe o quanto estamos a mercê, alienação, subjugação, decisão, criação, nada mais importa, já que o medo passa a porta que seria a útima esperança. De que algo nos traria segurança.
Fujo sim do estilo literário, escrevo ignorando o gramatical, o parnasiano e o moderno. Tudo se mistura ao mesmo tempo que se separa. De mesmo modo que se atraem e repelem.
Sim, nenhum sentido no que eu disse. É só a contradição dentro de mim, dessa mente insana.

domingo, 7 de março de 2010

Quem sabe...

Será que sou só eu? Às vezes me pergunto se isso é tão incomum, se alguém vê do mesmo jeito. Será que sou só eu que prefiro o frio ao calor? Ou ainda o abraço ao rancor? Será que só eu me prendo à olhares? Porque me são tão fascinantes? Porque me prendo à sorrisos, palavras, carinhos. Porque me prendo a fantasmas, às almas penadas que, ainda que nunca tenham vivido de fato, são perturbadores. Será que só eu tenho lembranças ao ouvir as mesmas músicas? E será que ainda assim, depois de tudo, consegue abrir um sorriso verdadeiro e esquecer de tudo, será que sou só eu?

Palavrões me passam pela mente, ao mesmo tempo que se misturam com perfumes, melodias melancólicas e o pulsar de algo que se aproxima da raiva. Impulsivamente penso em chutar o objeto mais próximo. Controladamente dou um murro em algo sólido. Eu sei, o sol amanhã secarão as lágrimas do sereno. Eu sei, tudo sempre volta ao normal, o meu sorriso pontual, o meu riso sempre igual. Porque no rio só desce o que é leve, o pesado se junta, protege. O que fica é forte, é consistente. E é assim que termino, sempre igual, sempre diferente, sempre contraditório, irreverente. Sempre compassivo, tão solenemente. Subversivo, obediente. Compulsivo, ironicamente. Fingindo sorrateiramente, o que passa na mente.

Rima, métrica, nada expressa sentimento. Poesia é supérfluo, quando minha espinha arrepia, o coração se agita, a mente palpita, a boca saliva, os olhos também. Mas tudo, tudo volta sempre ao normal.

Como o curso de um giro, tudo sempre volta à posição inicial. Quem sabe, um dia, os parafusos se soltem, e essas rodas possam fugir livremente. Quem sabe andem em estradas planas, onde as flores não caem, onde o fogo não se apaga, onde mortos morrem. Quem sabe.

Hoje

Hoje acordei diferente. Acordei com vontade de escrever. Lembrei desse infame diário, que apesar de não pesar na velha bolsa, pesa na mente. Talvez não seja de fato um diário. Porque não é de fato diariamente que o visito. Mas quando visito, deixo mais do que a receita de um dia. Ou não.
Assisti outra lição moral de algo que eu chamo de vida. É pessoal, chame como achar melhor. E dessa vez foi de fato reveladora.
Caminhava pela praia, o que sempre me dava prazer. De repente comecei a me deparar com um enorme canteiro de obras. As pessoas andavam de um lado para outro, pareciam que sabiam o que tinham de fazer, o que depois eu soube ser só parte do show. Elas carregavam grandes blocos, faziam argamassas, levantavam paredes. O mais incrível era: cada um fazia o seu edifício. E sem a ajuda de ninguém, apesar de eles sempre me falarem o contrário.
Vi homens levantarem castelos, grandes obras de arte, o que me deixava espantado. Por um momento, sentado sobre uma daquelas grandes dunas, tive a sensação de que aquele lugar não era propício para aquelas construções. Ainda assim, preferi manter-me inerte. Era o mais seguro.
Decidi manter meu posto e assistir com mais afinco as obras, quem sabe aquilo pudesse me dizer algo. E podia.
Um daqueles construtores levantou um castelo imenso, o decorou cuidadosamente com o que havia de mais precioso por perto. Cuidou de cada detalhe. Tive a honra de visitar os aposentos, e vi o quanto havia dado trabalho. Tudo se encaminhava perfeitamente. Ótima conjugação para esse verbo.
De repente, como costumeiramente, no fim de alguma tarde preguiçosa, o vento do sul soprou forte. E como sempre, muito forte. As pedras soltas voavam, e as pessoas corriam de um lado para outro. Em um lapso, sem mostrar resistencia, o grande castelo ruiu, como uma grande pedra afundando em águas agitadas, como um pássaro atingido por uma bala. tudo o que era de mais precioso se fazia em terra.
Pensei em como seria doloroso. Pensei em como deve ter sido penoso. Mas, ao mesmo tempo, sabia que praia não é lugar de castelo, e areia não serve de alicerce. Pensei ainda que de nada adiantava tanto pensar. De nada adiantava tanto escrever, tanto esgoelar. Cada um escolhe seu terreno, e isso é irrevogável.
Quem sabe um dia alguém aprenda algo com essas palavras tolas. Quem sabe faça sentido pra alguém. Quem sabe algum construtor tire lições, ou ainda algum sábio, que não se leva por paixões. Malditas suposições!